Solo Exhibition — Midnight’s Children 2025
[ Os Filhos da Meia-Noite ]

September 11 — Dezember 14, 2025
Jahmek Contemporary Art Luanda, Angola
 
Questionamento.
O que conecta um cosmograma bacongo ao sistema numérico quipu, ao açúcar, à escravatura, e às independências em África
e nas Caraíbas?

As relações entre os vivos, o cosmos, e os antepassados, comunicam a circularidade dos processos de vida e morte que atravessam o tempo. Tempo, este, que pode ser medido em ‘nós’ que nos ligam àqueles que vieram antes
de ‘nós’, através do tempo e do espaço. Espaço, este, que pode ser encurtado em travessias,
que levaram àqueles que vieram antes nós, vendidos e escravizados, para o outro lado do Atlântico Negro, onde, novamente vendidos e escravizados, foram instrumentalizados para a produção do açúcar que potenciou as grandes riquezas desumanas da Europa e das Américas do Sul e Norte, assentadas em escravaturas que deram à luz às grandes rebeliões, das rebeliões as emancipações, das emancipações os movi-
mentos, dos movimentos as independências. Entre os vivos, o cosmos, e os antepassados, continua a circularidade das nossas histórias que fecham ciclos, para iniciarmos outros capazes de atravessar o tempo, o espaço
e a memória.
—Tila Likunzi

Descrição do projeto

A exposição individual Midnight’s Children / Filhos da Meia Noite da artista Iris Buchholz Chocolate comemora os 50 anos de indepen-
dência de Angola. O título se refere ao romance mágico de Salman Rushdie, no qual as crianças nascidas à meia-noite da data da independência da India estão imbuídas de poderes mágicos.

Numa instalação poética as datas de indepen-
dência de todos os países africanos estão unidas. Incluindo o Haiti – que se tornou a primeira república negra do mundo – representando as ilhas do Caribe, onde a maioria das pessoas escravizadas morreu nas plantações. Para a América Latina, foi adicionada a data do fim da escravidão no Brasil e para os Estados Unidos
a data do fim da segregação.

A artista inventou um sistema circular, que representa numericamente cada data de independência. A data está agrupada por ano, mês e dia ao longo de 6 círculos interligados.
Na instalação os números de cada data de independência são representados por longas fitas fixadas em discos pequenos. Mais do que 2.000 fitas flutuam no espaço. A cor dourada das fitas representa não apenas as riquezas provenientes do continente africano, contri-
buindo para a economia mundial em forma de mão de obra ou recursos, mas acima de tudo para celebrar como a cultura africana enri-
queceu a cultura mundial, criando novas músicas, danças, costumes e fusão culinária.

Como a luta pela liberdade e independência
foi longa e sangrenta, a paleta de cores dos desenhos e dos muros da exposição faz refe-
rência ao sangue seco em diferentes estágios. Também em todas as culturas, o Amor universal é representado através dos grandes mitos e, em muitos desses mitos, é simbolizado pelo símbolo sagrado do sangue. A artista utilizou pequenos círculos de pão para os murais para lembrar que, muitas vezes, a fome foi usada como uma ferramenta para controlar ou dizimar a popu-
lação local. Os círculos feito de pão seco parecem ser pequenos corais, que faz lembrar ao oceano e o triangulo transatlântico Os países escolhidos para os murais simbolizam vários movimentos de resistência e dois genocídios cometido na África Austral.

A instalação sonora A Testemunha composto
de plantas tropicais de Angola e sons da floresta tropical da América Latina, gravado por Victor Gama, evoca ambos lados do dito “Atlântico Negro” em que os crimes contra a humanidade foram cometidos.

O programa educativo reflete sobre a inspira-
ção da artista: o cosmograma dos Bakongo, o Dikenga dia Kongo, antigo símbolo espiritual do reino do Kongo, é conhecido por ter sido utilizado como local de comunicação entre os vivos, Deus e os antepassados, tal como o sis-
tema de comunicação dos incas na América do Sul pré-colombiana os —quipus, ordões com
nós que codificam o tempo, as quantidades e a linguagem. A história das plantações de açúcar das Caraíbas e vários movimentos de resistência estão incluídos.